22 de fev. de 2009

Fotografia para ilustrar poesia de Hist

Fotografia David Nobrega - Poluição do Rio Tietê em Salto - SP



Poemas aos homens do nosso tempo

*Hilda Hist

Amada vida, minha morte demora.

Dizer que coisa ao homem,

Propor que viagem? Reis, ministros

E todos vós, políticos,

Que palavra além de ouro e treva

Fica em vossos ouvidos?

Além de vossa RAPACIDADE

O que sabeis

Da alma dos homens?

Ouro, conquista, lucro, logro

E os nossos ossos

E o sangue das gentes

E a vida dos homens

Entre os vossos dentes.


* * *

Lobos? São muitos.

Mas tu podes ainda

A palavra na língua

Aquietá-los.

Mortos? O mundo.

Mas podes acordá-lo

Sortilégio de vida

Na palavra escrita.

Lúcidos? São poucos.

Mas se farão milhares

Se à lucidez dos poucos

Te juntares.

Raros? Teus preclaros amigos.

E tu mesmo, raro.

Se nas coisas que digo

Acreditares.


* * *

Bombas limpas, disseram? E tu sorris

E eu também. E já nos vemos mortos

Um verniz sobre o corpo, limpos, estáticos,

Mais mortos do que limpos, exato

Nosso corpo de vidro, rígido

À mercê dos teus atos, homem político.

Bombas limpas sobre a carne antiga.

Vitral esplendente e agudo sobre a tarde.

E nós na tarde repensamos mudos

A limpeza fatal sobre nossas cabeças

E tua sábia eloqüência, homens-hienas

Dirigentes do mundo.


* * *

Ao teu encontro, Homem do meu tempo,

E à espera de que tu prevaleças

À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,

Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças

E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,

Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa.

As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei

Minha própria rudeza e o difícil de antes,

Aparências, o amor dilacerado dos homens

Meu próprio amor que é o teu

O mistério dos rios, da terra, da semente.

Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu

Compaixão e ternura e paz na Terra

Se ainda encontrasse em ti, o que te deu.


* * *

Ávidos de ter, homens e mulheres caminham pelas ruas.

As amigas sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer,

Se debruçam banais, sobre as vitrines curvas.

Uma pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas.

Te pergunto: E a entranha?

De ti mesma, de um poder que te foi dado

Alguma coisa clara se fez? Ou porque tudo se perdeu

É que procuras nas vitrines curvas, tu mesma,

Possuída de sonho, tu mesma infinita, maga,

Tua aventura de ser, tão esquecida?

Por que não tentas esse poço de dentro

O incomensurável, um passeio veemente pela vida?

Teu outro rosto. Único. Primeiro. E encantada

De ter teu rosto verdadeiro, desejarias nada.


* * *

Enquanto faço o verso, tu decerto vives.

Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.

Dirás que sangue é o não teres teu ouro

E o poeta te diz: compra o teu tempo.

Contempla o teu viver que corre, escuta

O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.

Enquanto faço o verso, tu que não me lês

Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.

O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:

"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".

Irmão do meu momento: quando eu morrer

Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:

MORRE O AMOR DE UM POETA.

E isso é tanto, que o teu ouro não compra,

E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto

Não cabe no meu canto.

(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso )

* Hilda Hist... Poeta, Dramaturga e ficcionista.

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A fotografia acaba ilustrando um pouco a poesia de 74... O Brasil parou, os mesmos preblemas, os mesmos políticos as mesmas reclamações. E o rio Tietê com isso? Continua podre, sujo e não existe maneira de algum político sair da sua cadeira e dar uma olhada ou uma cheirada na poluição!

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