23 de out. de 2008

Período - Quinhentismo

Bem, como gostamos ( eu e David) muito de ler e entender o que lemos e principalmente melhorar no que gostamos de fazer (escrever), vamos postar os períodos da Literatura do Brasil. Estes posts, vão ser programados, ou seja... Estamos ocupados, porém não queremos deixar essa humilde casa sem atualização.


Quinhentismo -
Inicio do período literário brasileiro. Um período que os escritos eram feitos basicamente para catequizar o nosso povo. Algumas pessoas consideram exagero, que o início de nossa colonização compreenda um período literário, pois os escritores não tinham um envolvimento social ou humano com a nossa terra. Os textos além de serem objetos de catequização, possuíam um carater de exaltar as belezas e possibilidades " da nova terra" , outros porém relatavam timidamente as dificuldades existentes.
Escritores que destacam - se nesse período:

Pero Vaz de Caminha: era escrivão da esquadra de Pedro Álvarez Cabral, foi autor da "certidão de nascimento do Brasil" . Foi Caminha que escreveu a Carta ao Rei de Portugal, contando sobre a descoberta do Brasil.

"Senhor,

posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!

Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.

Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado.

E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:

E digo quê:


A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto." ( CONTINUA)


Bento Teixeira: Apesar de ser natural de Portugal, pode ser considerado um escritor brasileiro pois se mudou para cá ainda criança e escreveu para os brasileiros e sobre o Brasil. É autor de Prosopopéia, inspirada em Os Lusíadas.


"I

Cantem Poetas o Poder Romano,

Sobmetendo Nações ao jugo duro;

O Mantuano pinte o Rei Troiano,

Descendo à confusão do Reino escuro;

Que eu canto um Albuquerque soberano,

Da Fé, da cara Pátria firme muro,

Cujo valor e ser, que o Ceo lhe inspira,

Pode estancar a Lácia e Grega lira.

II

As Délficas irmãs chamar não quero,

que tal invocação é vão estudo;

Aquele chamo só, de quem espero

A vida que se espera em fim de tudo.

Ele fará meu Verso tão sincero,

Quanto fora sem ele tosco e rudo,

Que per rezão negar não deve o menos

Quem deu o mais a míseros terrenos. " (CONTINUA)

Pero de Magalhães Gândavo: Cronista, professor de Latim e gramática, escreveu dois livros... Tratado da Terra do Brasil e História da Província de Santa Cruz.

"Minha tenção não foi outra neste summario (discreto e curioso lector) senão denunciar em breves palavras a fertilidade e abundancia da terra do Brasil, para que esta fama venha a noticia de muitas pessoas que nestes Reinos vivem com pobreza, e não duvidem escolhe-la para seu remedio; por que a mesma terra he tam natural e favoravel aos estranhos que a todos agazalha e convida como remedio por pobres e desemparados que sejão. E assi cada vez se vai fazendo mais prospera, e depois que as terras viçosas se forem povoando (que agora estão desertas por falta de gente) hão de se fazer nellas grossas fazendas como já estão feitas nas que possuem os moradores da terra, e também se espera desta provincia que por tempo floreça tanto na riqueza como as Antilhas de Castella por que he certo ser em si a terra mui rica e haver nella muitos metaes, os quaes ataegora se não descobrem ou por não haver gente na terra pera cometer esta empreza, ou tambem por negligencia dos moradores que se não querem dispor a esse trabalho: qual seja a causa por que o deixão de fazer não sei. Mas permitirá nosso Senhor que ainda em nossos dias se descubram nella grandes thesouros, assi para serviço a augmento de S. A., como pera proveito de seus Vassallos que o desejão servir. " ( CONTINUA)

José de Anchieta: Era Padre Jesuíta e além de escrever poesias, criou o teatro brasileiro... Importante para a catequeze dos índios.

"COMPAIXÃO DA VIRGEM NA MORTE DO FILHO

Por que ao profundo sono, alma, tu te abandonas,
e em pesado dormir, tão fundo assim ressonas?

Não te move a aflição dessa mãe toda em pranto,
que a morte tão cruel do filho chora tanto?

O seio que de dor amargado esmorece,
ao ver, ali presente, as chagas que padece?

Onde a vista pousar, tudo o que é de Jesus,
ocorre ao teu olhar vertendo sangue a flux.

Olha como, prostrado ante a face do Pai,
todo o sangue em suor do corpo se lhe esvai.

Olha como a ladrão essas bárbaras hordas
pisam-no e lhe retêm o colo e mãos com cordas.

Olha, perante Anás, como duro soldado
o esbofeteia mau, com punho bem cerrado.

Vê como, ante Caifás, em humildes meneios,
agüenta opróbrios mil, punhos, escarros feios.

Não afasta seu rosto ao que o bate, e se abeira
do que duro lhe arranca a barba e cabeleira.

Olha com que azorrague o carrasco sombrio
retalha do Senhor a meiga carne a frio.

Olha como lhe rasga a cerviz rijo espinho,
e o sangue puro risca a face toda arminho.

Pois não vês que seu corpo, incivilmente leso,
mal susterá ao ombro o desumano peso?

Vê como a dextra má finca em lenho de escravo
as inocentes mãos com aguçado cravo.

Olha como na cruz finca a mão do algoz cego
os inocentes pés com aguçado prego.

Ei-lo, rasgado jaz nesse tronco inimigo,
e c'o sangue a escorrer paga teu furto antigo!

Vê como larga chaga abre o peito, e deságua
misturado com sangue um rio todo d'água.

Se o não sabes, a mãe dolorosa reclama
para si quanto vês sofrer ao filho que ama.

Pois quanto ele aguentou em seu corpo desfeito,
tanto suporta a mãe no compassivo peito.

Ergue-te pois e, atrás da muralha ferina
cheio de compaixão, procura a mãe divina.

Deixaram-te uma e outro em sinais bem marcada
a passagem: assim, tornou-se clara a estrada.

Ele aos rastros tingiu com seu sangue tais sendas,
ela o solo regou com lágrimas tremendas.

Procura a boa mãe, e a seu pranto sossega,
se acaso ainda aflita às lágrimas se entrega.

Mas se essa imensa dor tal consolo invalida,
porque a morte matou a vida à sua vida,

ao menos chorarás todo o teu latrocínio,
que foi toda a razão do horrível assassínio.

Mas onde te arrastou, mãe, borrasca tão forte?
que terra te acolheu a prantear tal morte?

Ouvirá teu gemido e lamento a colina,
em que de ossos mortais a terra podre mina?

Sofres acaso tu junto à planta do odor,
em que pendeu Jesus, em que pendeu o amor?

Eis-te aí lacrimosa a curtir pena inteira,
pagando o mau prazer de nossa mãe primeira!

Sob a planta vedada, ela fez-se corruta:
colheu boba e loquaz, com mão audaz a fruta.

Mas a fruta preciosa, em teu seio nascida,
à própria boa mãe dá para sempre a vida,

e a seus filhos de amor que morreram na rega
do primeiro veneno, a ti os ergue e entrega.

Mas findou tua vida, essa doce vivência
do amante coração: caiu-te a resistência!

O inimigo arrastou a essa cruz tão amarga
quem dos seios, em ti, pendeu qual doce carga.

Sucumbiu teu Jesus transpassado de chagas,
ele, o fulgor, a glória, a luz em que divagas.

Quantas chagas sofreu, doutras tantas te dóis:
era uma só e a mesma a vida de vós dois!

Pois se teu coração o conserva, e jamais
deixou de se hospedar dentro de teus umbrais,

para ferido assim crua morte o tragar,
com lança foi mister teu coração rasgar.

Rompeu-te o coração seu terrível flagelo,
e o espinho ensangüentou teu coração tão belo.

Conjurou contra ti, com seus cravos sangrentos,
quanto arrastou na cruz o filho, de tormentos.

Mas, inda vives tu, morto Deus, tua vida?
e não foste arrastada em morte parecida?

E como é que, ao morrer, não roubou teus sentidos,
se sempre uma alma só reteve os dois unidos?

Não puderas, confesso, agüentar mal tamanho,
se não te sustentasse amor assim estranho;

se não te erguesse o filho em seu válido busto,
deixando-te mais dor ao coração robusto.

Vives ainda, ó mãe, p'ra sofrer mais canseira:
já te envolve no mar uma onda derradeira.

Esconde, mãe, o rosto e o olhar no regaço:
eis que a lança a vibrar voa no leve espaço.

Rasga o sagrado peito a teu filho já morto,
fincando-se a tremer no coração absorto.

Faltava a tanta dor esta síntese finda,
faltava ao teu penar tal complemento ainda!

Faltava ao teu suplício esta última chaga!
tão grave dor e pena achou ainda vaga!

Com o filho na cruz tu querias bem mais:
que pregassem teus pés, teus punhos virginais.

Ele tomou p'ra si todo o cravo e madeiro
e deu-te a rija lança ao coração inteiro.

Podes mãe, descansar; já tens quanto querias:
Varam-te o coração todas as agonias.

Este golpe encontrou o seu corpo desfeito:
só tu colhes o golpe em compassivo peito.

Chaga santa, eis te abriu, mais que o ferro da lança,
o amor de nosso amor, que amou sem temperança!

Ó rio, que confluis das nascentes do Edém,
todo se embebe o chão das águas que retém!

Ó caminho real, áurea porta da altura!
Torre de fortaleza, abrigo da alma pura!

Ó rosa a trescalar santo odor que embriaga!
Jóia com que no céu o pobre um trono paga!

Doce ninho no qual pombas põem seus ovinhos
e casta rola nutre os tenros filhotinhos!

Ó chaga que és rubi de ornamento e esplendor,
cravas os peitos bons de divinal amor!

Ó ferida a ferir corações de imprevisto,
abres estrada larga ao coração de Cristo!

Prova do estranho amor, que nos força à unidade!
Porto a que se recolhe a barca em tempestade!

Refugiam-se a ti os que o mau pisa e afronta:
mas tu a todo o mal és medicina pronta!

Quem se verga em tristeza, em consolo se alarga:
por ti, depõe do peito a dura sobrecarga!

Por ti, o pecador, firme em sua esperança,
sem temor, chega ao lar da bem-aventurança!

Ó morada de paz! sempre viva cisterna
da torrente que jorra até a vida eterna!

Esta ferida, ó mãe, só se abriu em teu peito:
quem a sofre és tu só, só tu lhe tens direito.

Que nesse peito aberto eu me possa meter,
possa no coração de meu Senhor viver!

Por aí entrarei ao amor descoberto,
terei aí descanso, aí meu pouso certo!

No sangue que jorrou lavarei meus delitos,
e manchas delirei em seus caudais benditos!

Se neste teto e lar decorrer minha sorte,
me será doce a vida, e será doce a morte!"


Fonte de pesquisa: "pai google" e o livro Literatura Brasileira - da origem
aos nossos dias - Editora Moderna