Acaba de ser aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembléia Legislativa do
prestigioso Estado do Rio Grande do Sul, lei de autoria do senhor deputado Raul
Carrion (PCdoB) que trata única e exclusivamente sobre estrangeirismos: "Este
projeto de lei nasce da necessidade de resguardar a língua portuguesa da
invasão indiscriminada e desnecessária de expressões estrangeiras que possuem
equivalentes em nosso idioma", explica o nobre legislador, em seu website.
No corpo do projeto, faz-se saber que, não havendo
substitutivo para o termo estrangeiro, que explique-se em fontes e formatos idênticos
aos de uso na frase, o conceito ou
significado que tal palavra possua.
Por várias vezes já escrevi que realmente temos que
preservar nossa língua de agressões neologísticas, tão presentes na internet e
nos cadernos escolares de nossa juventude diplomada em analfabetismo funcional.
Termos como "amu", "axu", "comofas?",
"migu" são de uma pobreza tal, que chega a causar repetidamente
vergonha alheia em quem inadvertidamente os lê. Esse sim é um bom ponto de
partida para se preservar a língua: EDUCAR, de maneira correta, aqueles que
(por todos os Céus!!!), irão determinar o futuro de nossa Nação daqui há uns
10, 20 anos.
Sendo paulista e paulistano, morador a mais de 3 anos de
terras gaúchas, a perspectiva de "estrangeirismos" do nobre deputado
me deixa, no mínimo, encafifado. Aqui , na região do Vale do Rio Pardo, não se
toma o chá das cinco nem se faz um café da tarde: faz-se o kränzchen, termo
alemão para a mesmíssima coisa. Andar pelas ruas de Vera Cruz, cidade onde hoje
resido com minha esposa, é sentir-se um tanto estrangeiro, já que não entendo
nem uma única palavra de alemão, língua "oficial" da cidade. Como é comum, principalmente nas zonas rurais,
em todas cidades da região.
Agora, você que não é estudioso de regionalismos, sabe o que
é cuzco, sumanta, garraio, clinudo, rosilho? Não? Nem eu. Estou lendo esses
termos no Minidicionário Guasca, de
Zeno Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes, da Martins Livreiro. São termos de uso
comum em algumas regiões gaúchas, principalmente naquelas de fronteira onde o
"gauchês" mistura-se ao castelhano de nossas vizinhos. Que faremos
com esses termos, expostos em placas e cardápios de restaurante, por exemplo?
O nobre deputado Raul Carrion não elaborou um projeto para
que a pureza da língua se mantenha, mas sim um projeto que exprime sua aversão
aos termos de língua inglesa, provavelmente oriundo de um antiamericanismo, ainda que latente. Em nenhum momento ouvi ou li o nobre deputado
citar, por exemplo, a Oktoberfest de Santa Cruz do Sul, que agora chamar-se-á
tão somente "Festa de Outubro". O deputado também deve desconhecer a
opinião de gramáticos, como do professor Carlos Moreno, que diz textualmente "A Língua Portuguesa não precisa de defesa".
O nobre deputado Raul Carrion também parece esquecer que a
língua de uma Nação é um corpo vivo e irrefreável. A absorção de neologismos,
seja por adulteração do erudito ou de apropriação de termos estrangeiros é o
que fornece dinâmica de uma língua, fazendo com que perpetue por séculos, senão
milênios.
Fraudes, corrupção ativa e passiva, miséria, saúde.... Nada
disso parece ter importância, tendo em vista a qualidade dos projetos que são
discutidos em nossa Assembléia. Para poupar nosso tempo, nem vou tentar
traduzir algumas palavras, que seriam absurdo se ditos/escritos em português.
Para finalizar, cito aqui a "Internacional", hino comunista
do partido gêmeo ao que pertence o nobre deputado:
Senhores, Patrões, chefes
supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistamos
A terra mãe livre e comum
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