6 de set. de 2009

Os falsos ídolos


Aqui em casa as coisas geralmente são discutidas de forma apaixonada. A Letícia tem uma maneira mais "nova" de ver as coisas, enquanto eu, já passadas mais de 40 primaveras, lembro ainda dos livros de Moral e Civismo dos tempos da Ditadura.

Existem certos assuntos que são polêmicos, como a poesia. Eu sou daqueles que gostam de rima ou sentido no uso das palavras. Textos desconexos que ninguém entende e por isso são "linnnduuuuu miguuu"...bem, esses não tenho lá grande conceito. Letícia já é fã dos versos brancos e tal. Chegamos ao consenso de que não há consenso e ponto final.

Mas existe um assunto que tem-nos dado o que falar e que - pasmem! - concordamos plenamente: o Brasil é uma terra onde a inversão de valores é uma constante histórica. Aha! vocês pensavam que nossas noites à base de vinho colonial eram apenas curtição né não? Dançaram...

Eu tenho há muito uma mentalidade certo e errado: se é que contra as leis vigentes é, por definição óbvia, ilegal. E mais: se continua sendo ilegal, não merece um lugar histórico sobre uma base de mármore, com permissão do Estado para que sejam ali oferecidas reverências aos bandidos.

Vamos por partes e, concordem comigo ou não, este texto é uma repetição ou complemento de outro que postei no "Aqui não Genésio!" quando vivo:

Protesto MST faz ato em defesa de Rainha, que está foragido
Publicado em 12.11.2006, às 20h30Cerca de 300 integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) realizaram nesse sábado à noite, em Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema, uma manifestação contra a ordem de prisão do líder José Rainha Júnior. O ato teve a participação de políticos ligados ao PT e sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
(publicado no JC de 2006/11/12 - página hoje fora do ar)
Esta é mais uma prova da realidade dos valores morais nestepaiz. José Rainha é um bandoleiro e merece sim estar na cadeia. Mas o PT, a Pastoral da Terra e sindicatos preferem fazê-lo mártir de uma situação criada para fomentar o ódio do povo (entenda-se aqui povo como qualquer desocupado do campo ou cidade que não tenha escrúpulos para se juntar ao seu bando) contra a burguesia (burguesia aqui representada por donos de terra).
É a mesma balela de sempre: queremos terra. Terras improdutivas. Etcéteras mil. Tudo papo-furado.
Somente 10% dos assentamentos criados para essa gangue vão para frente, mesmo com os subsídios criados pelos governos anteriores. Esses 10% são chamados pelo MST de "dissidentes", uma vez que querem mesmo um pedaço de chão para criar dos seus e não mais ficar morando em acampamentos, onde são "doutrinados" a ser o bebê que chora, mas não mama, nem quer as tetas gordas providas pelo governo. Tem que aprender a chorar, não mamar.
No Brasil temos um grande problema ao lidar com esses pseudo-mártires: Lampião era um bandido, mas até estátua querem dele. Teve o fim que mereceu. Essa história da carochinha de que ele foi um Hobin Wood do sertão não engana a qualquer pessoa com um mínimo de bom-senso. Outra recorrente pe a tal Olga Benário, bolchevique enviada para transformar este país em mais uma republiqueta vermelha, mas que até livros, operetas e artigos mil a chamam de companheira. Ridículo, uma vez que até mesmo seu marido endossou Getúlio Vargas depois dele a ter enviado para a morte em campos de concentração.
José Rainha está com um pé-sujo neste rol de personalidades brasileiras. Foi julgado culpado em vários processos, mas continua recebendo apoio e cobertura de ações. Ele é cumpanhêro do prizidente né? Esse, que luta contra o direito de posse de terras herdadas desde gerações, se acha no direito de determinar quem deve ou não ser proprietário.
Não sou mesmo contra o MST. Sou somente contra os 90% que nem sabem direito o que fazem ali. Como sempre, vou a favor da minoria, dissidente.


Pelas datas vê-se que nada muda e o mais novo ídolo, agora uma paixão semi-nacional e não mais relegada aos estudantes de esquerda, é Che Guevara. Outro dia a Letícia estava comentando que leu em um dos blogs que Che foi um dos fundadores do PT e fora morto em uma greve dos metalúrgicos.

Para uma biografia de Che, recomendo ler |aqui|, |aqui|, |aqui|, ou use o papai Google faça uma busca por "¿quién fue Che Guevara realmente?" e divirta-se com os resultados. Coloco a pesquisa em espanhol para que se encontre relatos de colombianos, bolivianos, argentinos e - é possível - cubanos sobre Che. Um exemplo:

Me refiero a la noción de que hay hombres "imprescindibles'', en el sentido totalitario y aniquilador, en el sentido supremacista y cercenador de la individualidad, que supo darle ese prodigio de deshonestidad intelectual que fue Bertolt Brecht.
Esa idea de que hay salvadores hechos de una estofa moral superior que les otorga poder de vida y muerte sobre los demás, halaga el integrismo enfermizo de todo buen salvaje de izquierda cuando coloca un disco de Silvio Rodríguez y se extasía escuchando que el Che era "un animal de galaxias'', un filántropo guerrero, que comprendió que ``la guerra era la paz del futuro'', y que "iba matando canallas con su cañón de futuro''.

Texto de Ibsen Martinez, publicado no sábado,
18 de outubro de 1997 no El Nuevo Herald, Venezuela.


Antes de engrandecer ícones que são infelizmente populares, estude História. Os lampiões, ches, olgas e mesmo os bandidos da Luz Vermelha que mereceram filme (assim como Tenório Cavalcante), devem não ser esquecidos, mas colocados em seu real lugar, que é porão do mau exemplo dado. Foram, são e sempre serão bandidos. E, até onde chega meu entendimento das coisas, assassino só serve de exemplo para aqueles que pensam em trilhar seu mesmo caminho ignóbil.

Vivemos a inversão de valores, onde a vontade de governar, mesmo não tendo condições para isso é prerrogativa de mando. Onde não saber escrever de maneira correta a língua portuguesa é legal, "bunituuu", "xou". Onde a corrupção, a amoralidade e a falta de ética são tão normais que quando alguém é honesto todos assustam e desconfiam.

Para uma época tão ruim e grosseira, eleger ídolos falsos chega a ser bíblico. Só espero que o bezerro dourado de hoje não comande nosso futuro eternamente.


*Crédito de imagem Real Cuba

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