17 de fev. de 2011

Juremos!


                Um dos textos mais bonitos que existem é o tal "Juramento de Hipócrates", aquele mesmo que todo estudante de medicina sabe ser para inglês ver. Durante os 23 anos em que trabalhei na área da saúde, conheci apenas um médico que vivia com esse preceito em mente, mesmo sendo secundário à filosofia Bahá´i que deve professar até hoje o doutor Massoud ("Persa David, non Iraquiano. Nós não gosta ser chamado assim. Nós é persa..."), se vivo estiver. Bonito não quer dizer prático, vemos então, já que jamais serão  vistos médicos abnegados que vivam mendigando pelas portas por não se acharem merecedores de pagamento por seus ensinamentos ou curas:

"Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes."

                A hipocrisia do Hipócrates é irreal, porque naqueles tempos deveria existir uma confraria ou sindicato que fornecesse sustento aos médicos, ou então sabe-se lá, viviam de brisa.
                Mas a hipocrisia grassa em nosso meio e uma das maiores é o ataque sistemático à indústria do fumo. Fumar deixa broxa, dá câncer, varizes, unha encravada e sabe-se lá mais o quê. E durante os anos que disse que trabalhei na saúde, pelo menos 15 foram exclusivamente com paciente oncológicos, sendo a maioria desses pacientes mulheres, não fumantes, não-sexualmente ativas, não-alcoólatras, não-nada! Senhorinhas que não tinham por hábito fazer o Papanicolau ou que nunca se submeteram a uma mamografia, por exemplo.
                O fumo faz mal? Claro, né Creide. Há estudos suficientes para embasar isso. E o álcool hein, grande tomador de Cabernet e Merlots, que dirige acima da velocidade permitida? E o sol, lagartão de praia? E o café, o chocolate, as gorduras polissaturadas, o açúcar? Viver faz mal. É simples assim. leite me faz mal, por exemplo. Minha intolerância à lactose me faz virar ao avesso toda vez que insisto em tomar um boa xícara de leite quentinho com bolachas amanteigadas.  
                Aqui em nossa região o que provê sustento às famílias, proprietárias de minifúndios geralmente, é o tabaco. Reclamam, o preço é baixo, o adubo é muito, o veneno é caro, etc. Mas trocam suas lavouras por algo como soja? Não, pois a lucratividade é imensamente menor. "Ah, o trabalho infantil...". Olá você, alienado citadino, mas em lavouras familiares todo mundo põe a mão na massa, para ter o que comer. Mas sim, as crianças estudam, desempenhando suas tarefas em casa quando for possível. Não é escravização mas sim o ensino doméstico. Video-game, Orkut, MSN? Não queridos, trabalho. Garanto que não mata.
                Contra a hipocrisia, eu faço uma proposta: vamos banir tudo que faz mal e onera nosso precário sistema de saúde. Não nos incomodemos com os mais de 15 bi de impostos recolhidos pela indústria do fumo anualmente, fechemos as fábricas e proibamos a importação. Cigarro não. Bebida não, por consequência, já que das quase um milhão e trezentas mil pessoas que morrem ao ano no trânsito, chuto que ao menos 8 0% tem influência direta do álcool consumido.
                Quanto aos agricultores, enfie-mo-lhes o trecho do "Juramento de Hipócrates" que destaquei acima pela goela. Que vivam de brisa, esses malfeitores. E óbvio que sou fumante e me sinto no direito de fazer o que bem entender de meus pulmões, sem gente chata sendo politicamente correta com a vida alheia, enquanto se entope de outras drogas às escondidas.

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