14 de set. de 2010

Lugar de boneco é na caixa!


Essa mania louca de sofrer mesmo que não exista sofrimento. Essa busca pelo sofrimento nosso do dia a dia... Inventa-se uma dor de cabeça para migrar ao coração, uma unha encravada para chegar ao engessamento dos sentidos.


E somos tão leais ao sofrimento que passamos a acoplar o dos outros. No íntimo, rivalizamos tragédias pois ser feliz é fora de moda e a felicidade é capaz de irritar até a mais educada recepcionista de imobiliária quando pedimos para falar com o dono, pois queremos pagar dois meses adiantados de aluguel.



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Não vivemos o efeito estufa, estamos em pleno efeito estafa! O mundo carrega olheiras, as jornadas são longas, irritantes. A enxaqueca é global e tudo é mais rápido que a buzina do apressado que atropela o sinal.

Alimentamos mal nosso corpo e nossa mente. Queremos o fácil, o rápido, o fast food, o resumo, a adivinhação e os vinte e cinco passos para conseguir juntar um milhão em dez anos. Adquirimos o semi-pronto, jogamos tudo em nossas viandas... Queremos o de graça.

Sofremos pela falta de tempo e pela sobra, andamos em eterno tédio da mesmice, do redondo ou do quadrado. Nós queremos os triângulos, as retas e as tortas!

Fingimos que escutamos quando estamos em Marte, fingimos que lemos quando passamos os olhos rapidamente, fingimos que dormimos quando ainda estamos pensando nos problemas diários.



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Passado o efeito estafa, entraremos na era do gloss. A terra inteira vai ser coberta por uma camada de gloss e tudo vai ser brilhante, feliz, retumbante e igualmente irritante até a extinção geral da crítica verdadeira e das palavras que nos corrigem!

Todos terão orgulho de suas grandes cagadas, não vamos mais nos preocupar com o que os outros falam, não vamos mais ficar tristes e nem sofrer. Não nos arrependeremos de nada e por fim, estaremos prontos para sermos embalados em caixas e vendidos tipo bonecas nas lojas de brinquedos de Saturno.

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