8 de ago. de 2010

Palavras ao vento



 Este texto não é, como pode até parecer a alguns, um pedido de desculpas por coisas escritas em outras ocasiões. Podem chamar mais de desabafo, constatação, retórica vazia... Tanto faz. Há muito deixei de me importar com definições pré-concebidas, mesmo porque muito do que digo tem a ver mais com minha pessoa física -- o David chato --, do que com o Editor -- o David com uma paciência de Jó.

 Vez por outra recebemos, Letícia e eu, textos para avaliação. Muitos vem por links, através do twitter, outros pelo e-mail. Isso quer dizer que, todos os dias, temos ao menos um livro para ler. Não acreditam? Pois é a mais pura verdade, pois somei as páginas que li outro dia e deram 80, o que dá um livrinho médio, não é? E olha que estou falando de mim. A Letícia deve ler mais ou menos o dobro. Claro que existe uma falha nesse processo: a leitura torna-se tão dinâmica que alguns detalhes fogem, mas isso não quer dizer que não possamos fazer uma avaliação decente, mesmo porque depois de um tempo você cria um 'gráfico mental', onde vai anotando altos e baixos de uma maneira tão natural que muito pouco fica de fora.

Nessa imensa quantidade de palavras, ordenadas em forma de poesia, de conto, de crônica, de artigo, existem textos ótimos. Novos poetas, velhos escritores, cronistas em formação ou já evoluídos nos dão o prazer do riso, da raiva, do querer e do perder. São autores que tem o sopro da vida à flor da pele. Sentem o que sentem e nos fazem sentir porque escrevem o que observam em torno de si; seguem o fluxo do mundo em movimento.

Há também o reverso da moda: textos horríveis, de autores que ainda não amadureceram o suficiente para apresentar algo de seu a um público mais exigente, como é nosso caso aqui. Dependendo do caso e da proximidade, entrego os pontos: "Olha, a ideia pode até ser boa, mas você escreve em primeira pessoa, passa para a terceira e o texto não termina". Ou "tal e qual palavra mataram a poesia, pois tiraram o ritmo". Outros autores, pelo estilo de conversa, prefiro ficar quieto, embora jamais publicasse algo escrito pelo cidadão. Isso "vareia", como se diz lá no Interior.

Mas existe um espécime que me dá nos nervos: o escritor -- principalmente e quase exclusivamente 'poetas' -- de comercial de margarina ou de absorvente feminino. Tudo é eterno e maravilhoso. O sol raia e os passarinhos cantam, mesmo em inverno fustigante. Toma um corno e acaba escrevendo as lições aprendidas, e ri para o Universo. É solitário, vazio, triste... Mas seus escritos transbordam de alegria e vivacidade, fingidos.

 Caros, muitas vezes escrevo esse tipo de coisa no twitter e no facebook para, quem sabe, receber de volta uma surpresa em forma de bofetada. Que alguns desses escritores Doriana se irritem comigo e escrevam sobre a morte, sobre o desamor, sobre a chuva que carrega casas e pessoas. Escrevam sobre a vida e não sobre a utópica visão clichê. Chamem a mim ou à Letícia e digam: "Olha aqui, seus babacas. Eu sei fazer isso, tá?" . deixem de lado os textos sobre a lua ou as fases femininas, porque gente muito melhor  -- ou mais conhecida -- que vocês já fez isso antes. Sejam diferentes e, se forem inspirar-se em algo já conhecido, façam como as escolas de samba: troquem as fantasias, mudem as roupagens, refaçam seus carros alegóricos. 

Me surpreendam! E por favor, não fiquem melindrados om as coisas que digo, pois não sou apenas leitor -- daqueles dos comentários miguxos, em blogs tantos --, não penso somente como escritor e nem consigo criticar sem os olhos do editor.

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