23 de ago. de 2010

Em uma segunda qualquer...

Acordei com a aquela sensação de estranheza. Algo não
estava certo comigo e, apesar de adorar as segundas-feiras, sou uma
pessoa normal que sente a preguiça universal desse dia, logo
nada a ver com o calendário.

Levantei com o despertador tocando alegremente, por que ele (o despertador)
não saber o risco que corre, ao despertar e fui até o
banheiro para o xixi e aquela escovada de dentes que só
apaixonados de filmes americanos desprezam. Já notaram como
esses casais de roliúde se beijam logo que acordam? Aquele
gosto de urina de gato na boca e a língua buscando lá
no fundo da goela da(o) amada(o) um alívio para o bafo. Bom,
mas isso é lá com eles e tirei minha escova do armário,
passei a pasta que deixa os dentes mais brancos só no
comercial da TV e comecei o ritual, em movimentos circulares nas
gengivas, para cima nos dentes de baixo, para baixo nos de cima, e...

Olhando para o espelho notei o que estava me fazendo sentir estranho. Embaixo
de meu queixo coberto por tocos de pelos de uma barba de três
dias, havia um algo que parecia -- juro para vocês! -- um peito
feminino. Claro que não era, mas tinha a forma arredondada, um
bico inchado por desejos que não eram meus. Um pelo encravado,
imenso, inflamado em tons de amarelo ao vermelho -- ou magenta, como
querem os mais sensíveis -- olhava para mim de dentro de seu
abrigo mamário.

Como todo macho que é homem, claro que não dei trela.
Afinal, precisava terminar ainda a língua e as bochechas, pois
segundo o comercial existem doze -- eu disse doze -- problemas que
podem afetar sua boca e eu não quero nenhum deles, me bastando
os dentes fraturados ao saborear feijão de rancho militar
temperado com pedras deliciosas. É, eu servi à Pátria
como soldado enfermeiro e garanto que me diverti muito. Mas isso é
outra história que, se vocês tiverem tempo, um dia
conto.

Voltando à teta em meu queixo. Depois da escovação,
enxague bucal e tal, voltei minha atenção ao fato novo
em minha vida e ao que fazer com ele. Juro que realmente pensei em ir
ao médico, mas como pessoa de consciência e com anos de
prática pelos hospitais do interior de São Paulo, fiz o
que qualquer pessoa normal e de fino trato faria: com os polegares
armados, espremi aquele desgraçado até o momento em que
não aguentei de dor. Com aquela lágrima solitária
escorrendo pelo meu rosto, dona Letícia -- minha amada eterna
menina, mãe dos filhos que terei e Musa de minha escrita --
entrou no banheiro a tempo de presenciar meu deslize inconsequente:

-- Bonito... será que dá leite? -- Perguntou, toda
preocupada, como é tão fácil de notar.

-- %$#*¨%$ -- respondi eu, ternamente. -- Essa merda dói,
porra!

Com olhos de especialista, segurou meu queixo e repetiu a operação
malfadada que eu acabara de submeter a mim mesmo. Claro que minha
senhora não possui dedões fortes como os meus, mas o
ataque foi mais perigoso: as unhas. Não posso reproduzir aqui
como externei meus agradecimentos pelos seu ato de compaixão
para com minha pessoa...

-- Legal seria se a gente tivesse algo que pudesse puxar a pontinha. Dá
para ver daqui. Uma pinça... Cadê minha pinça? --
dizendo isso saiu em busca da tal pinça, que, pelos cantos dos
olhos vi sobre a pia do banheiro, mas preferi ficar quieto...

Com essa algazarra toda me entra Lucas, nosso pré-adolescente, com
cara de poucos amigos que as segundas sempre lhe conferem.

-- Tá feio isso, hein? Por quê tu não pega a faca e
dá um cortinho ai, para sair essa coisa toda? -- escapou do
piparote de agradecimento por pouco, me deixando ali só,
sofrendo e abandonado.

Olhei para o pelo, ele olhou para mim e aí você tem que
encarar."Seja homem, meu filho!" -- disse para o eu do
espelho. Olho no olho. Passei uma água na cara, respirei fundo
e sem ligar para a dor, apertei de novo até que o filho de uma
égua explodisse no espelho. Letícia e Lucas correram em
meu auxílio, pensando talvez em me encontrar desacordado no
frio piso do banheiro, mas não! Ali estava eu, vitorioso,
branco é verdade, sangrando um pouco claro, mas feliz. Dona
Letícia olhou para o espelho e sorriu, aquele sorriso lindo
que tanto eu gosto e claro que entendi a mensagem: limpa isso!

Um pelo encravado pode ser uma grande problema, mas, mesmo com
dificuldades e gracejos, em questão de minutos você pode
estar livre dele. Diferente de políticos com ficha e alma
suja, que dependendo do cargo demoram até oito anos para que
você possa votar em um candidato melhor.



Político ruim é mais que um pelo, é um câncer. E a cura
para esse tipo de câncer não é a quimioterapia ou
a radioterapia, mas o seu voto.



Naspróximas eleições procure estudar seu candidato
e vote de maneira que, logo após a posse, esse sujeito lhe
faça aparecer com algo na cara, pela manhã. Não
um peitinho até gracioso, como foi meu caso, mas sim com cara
de bunda. E isso dói mais que pelo encravado, com certeza.

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