22 de ago. de 2010

critico, logo existo

Na era da informação rápida e de fonte duvidosa, qualquer pingo é letra. Em Vera Cruz, RS, coisa de um ano atrás, paro para abastecer no posto de gasolina e os frentistas estão se contorcendo em risos. No jornal local -- Vera Cruz é uma cidade de, sei lá, uns 25.000 habitantes, que sobrevivem basicamente da cultura do tabaco -- saiu a notícia de falecimento de um fulano de tal. Esse veracruzense, famoso pelas gandaias, havia supostamente desaparecido há um mês e encontrado morto sabe-se lá onde. A viúva, lendo o jornal, não teve dúvida: colocou as roupas do falecido para fora antes mesmo de encomendar o corpo. Os frentistas me explicaram que na verdade o fulano estava refastelado na casa de sicrana, que não era beltrana, sua amada esposa. O jornal, desavisado, confundiu os nomes germânicos tão comuns por aqui e o "defunto" acabou sem as roupas... Se em uma cidade desse tamanho as informações acabam sendo confundidas -- por não serem confirmadas como manda a ética e bom-senso --, imaginem o que não acontece no Brasil todo?


Fofoca gera especulação, e acaba criando críticos meia-sola, ávidos em acender as fogueiras sagradas do politicamente correto e da observação inútil herdadas da Inquisição, queimando pessoas que em grande parte dos casos nem sabem que estão sendo alvos de diz-que-diz. Aí pergunto: o que é pior? O crítico rasteirinha -- que pega de orelhada alguma novidade e corre para xingar muito no twitter, transformando o boato em fato -- ou o fofoqueiro que, após exercitar o neurônio único durante, vá lá, dias, tem a ideia bárbara em ser o primeiro a noticiar um "fato" por ele inventado?


Fofocas acompanham a raça humana e impérios já perderam suas muralhas por conta destas. Mas o crítico rasteirinha, ahhh esse é novidade. A facilidade com que se obtém através da internet as tais notícias de última hora, é imensa. Somos consumidores de notícias e nem sempre o cérebro consegue dar suporte ao tamanho das coisas. Entende-se pela metade e propaga-se, se muito, um quarto de realidade.


Criticar, dependendo da situação, enquadra-se naquele tal 'construtivo'. Uma dica de melhoria ou de rumo. Eu sou crítico e pergunto sempre antes de responder, quando me enviam algum texto: Prefere verdade dolorida ou mentira florida? Se não quer saber opinião e sim anseia por afagos, porta errada. Por outro lado, se eu acredito que o que li é bom propagandeio a qualidade, hoje em dia artigo raro. Mas isso é opinião minha; uma 'poesia' que considero ridícula pode ter o efeito devastador de despertar sentimentos em um outro alguém.


Criticar sem ofender é uma arte perdida. São raros os casos onde o crítico é isento o suficiente para conseguir mostrar deslizes sem melindrar os sentimentos do produtor do objeto criticado. Além disso, a perfeição não alcança políticos, jogadores de futebol ou mesmo editores. Todos erramos e mesmo assim a vida caminha, pra uns com mais, para outros com menos direção.


No final das contas, este texto que começou sobre a divulgação de informações de maneira irresponsável acabou virando mais uma crítica ao deprezo pela razoabilidade.

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