Ficar
em casa, confortavelmente paramentado de mendigo é uma conquista do
relacionamento. Quase um xixi com a porta aberta, você só pode
vestir aquela roupa da liquidação de 1998 se confiar na pessoa com
quem você convive.
Tenho
uma blusa de lã, gola rulê (de quando era moda gola rulê) que vira
e mexe passa por outro pescoço que não o meu, e acaba abraçando
por mim o corpo de dona Letícia. Essa troca de roupas -- mesmo que
uma só mão, já que o que é dela não me servirá jamais -- é uma
troca de confidências. Uma continuidade de segredos trocados em
horas silenciosas, quando somente os rostos colados podem se fazer
ouvir. Enfim, o estabelecimento da intimidade entre os casais.
Claro
que existem absurdos. E Letícia, amada minha, comete alguns,
despropositados. E olhem que não somente eu que penso assim. Lucas,
meu enteado, tem o mesmo ódio ela calça de moletom verde ("Presente
do meu irmão" -- sic) e da blusa do Mickey ("Eu trouxe da
Disney!" -- aos 15 anos...).
Hoje
durante o almoço, fartamente servido por aquela lasanha que só eu
sou capaz de fazer, Lucas opinou que, como o pai dele viria buscá-lo
para as férias de inverno, seria melhor a mãe trocar de roupa. Sim,
o Mickey e a calça de moletom verde.
"Meu
filho, estou em casa. Essa roupa é tão confortável!" -- disse
amada minha.
"Pode
ser, mas é horrível" -- foi a resposta do cidadão de 9 anos. E continuou: "Mãe,
se troca...".
Eu
rindo, claro. Essa é uma situação que se enquadra naquelas
brincadeiras de família. O rabo solto para piadinhas conhecidas.
Dona
Letícia, do alto de sua sapiência, sentenciou:
"Olhem
aqui, vocês dois, está frio e esta roupa é bem quente!"
Sem
demorar para pensar, seu Lucas respondeu:
"Então
tá. Quer dizer então que no verão tu vais andar pelada por aí, é
isso?"
Claro
que amada minha foi trocar de roupa, depois dessa...
Share |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Livre para opinar, mantendo a educação..