25 de jul. de 2010

O PC

Estava lendo o Ivan Lessa agorinha mesmo lá no site da BBC Brasil. Eu gosto e aguardo a coluna do Ivan, pois a realidade misturada ao sarcasmo e -- por quê não -- ao surreal é algo que me dá mais ganas de ler do que um texto chato em formato convencional.

Em uma das frases da crônica em questão -- Abaixo os Simpsons! --, há uma frase fantástica: "O passado de vez em quando engata essa: ser bom." Não há como discordar, mesmo não sendo saudosista.

Racionalmente falando, poder andar de bicicleta ou skate nas ruas era fantástico -- principalmente porque ninguém atropelava e fugia, como aconteceu recente e tristemente, com o filho da Cissa Guimarães. Assim como aprender a dirigir no colo do pai, bater bafo ou pular corda. Hoje em dia, quase não se veem mais os balões de São João, que queimaram tantas florestas e empresas. Não se brinca mais de esconde-esconde. Não se atira mais o pau no gato.

A culpa, se é que podemos culpar alguém, é um chato com variadas versões, todas elas arraigadas na mente tacanha de uns e outros: o politicamente correto.

O Politicamente Correto -- vamos amiudar isso e chamá-lo somente de PC, que vale também para paralisia cerebral -- não gosta de cirandas, acha que palmadas educativas que fazem nossos filhos voltarem o corpo são um atentado à infância e principalmente, acham que os exemplos do passado são maléficos. Fumar faz mal (mas ninguém breca o processo produtivo), carro a gasolina não pode (mas o álcool é mais caro), brincar de médico é traumático (nem precisa comentar). Beber pode, mas tem que ser vinho orgânico, nacional e produzido com uvas esmagadas por calcanhares rachados.

O PC tem só um objetivo na vida: mudar a vida. Não a dele, que além de chato deve ser um ícone para si e para sua família, mas a minha, a sua, a nossa vida, que nada tem a ver com a dele. Ser PC, antes de mais nada, é ser bem-sucedido financeiramente, pois os produtos orgânicos sempre pesam mais no bolso do assalariado convencional.

O PC não sai do meu pé nem tira o nariz de meu cigarro. O PC adora medir o quanto bebo. O PC adora quando meu carro quebra, pois os híbridos são menos poluentes, embora mais caros. O PC economiza a água na hora do banho, desliga as luzes ao sair de um cômodo, mas tem piscina e o ar condicionado -- com purificador de ar e sem CFC -- funcionando 24 horas por dia.


O PC não conta piadas, pois qualquer risada é um assalto às minorias. O PC também não come churrasco. Emissões de carbono no carvão e no pum das vacas. O PC não come McDonald´s, pois o hambúrguer pode ser de minhocas e além de tudo o PC não curte música, pois os decibéis de uma festa adolescente podem ferir os ouvidos de que pouco está-se importando com isso.

O PC não tem nada a ver com política, em verdade. O PC é um fanático religioso. E chato, arrogante, prepotente como todo extremista é.

Sem saudosismo, que se danem os Simpsons da crônica do Ivan Lessa. Mas ao menos que retornem os catecismos do Carlos Zéfiro.

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