Estava lendo o Ivan
Lessa agorinha mesmo lá no site da BBC Brasil. Eu gosto e aguardo a
coluna do Ivan, pois a realidade misturada ao sarcasmo e -- por quê
não -- ao surreal é algo que me dá mais ganas de ler do que um
texto chato em formato convencional.
Em uma das frases da
crônica em questão -- Abaixo os Simpsons! --, há uma frase
fantástica: "O passado de vez em quando engata essa: ser bom."
Não há como discordar, mesmo não sendo saudosista.
Racionalmente falando,
poder andar de bicicleta ou skate nas ruas era fantástico --
principalmente porque ninguém atropelava e fugia, como aconteceu
recente e tristemente, com o filho da Cissa Guimarães. Assim como
aprender a dirigir no colo do pai, bater bafo ou pular corda. Hoje em
dia, quase não se veem mais os balões de São João, que queimaram
tantas florestas e empresas. Não se brinca mais de esconde-esconde.
Não se atira mais o pau no gato.
A culpa, se é que
podemos culpar alguém, é um chato com variadas versões, todas elas
arraigadas na mente tacanha de uns e outros: o politicamente correto.
O Politicamente Correto
-- vamos amiudar isso e chamá-lo somente de PC, que vale também
para paralisia cerebral -- não gosta de cirandas, acha que palmadas
educativas que fazem nossos filhos voltarem o corpo são um atentado
à infância e principalmente, acham que os exemplos do passado são
maléficos. Fumar faz mal (mas ninguém breca o processo produtivo),
carro a gasolina não pode (mas o álcool é mais caro), brincar de
médico é traumático (nem precisa comentar). Beber pode, mas tem
que ser vinho orgânico, nacional e produzido com uvas esmagadas por
calcanhares rachados.
O PC tem só um
objetivo na vida: mudar a vida. Não a dele, que além de chato deve
ser um ícone para si e para sua família, mas a minha, a sua, a
nossa vida, que nada tem a ver com a dele. Ser PC, antes de mais
nada, é ser bem-sucedido financeiramente, pois os produtos orgânicos
sempre pesam mais no bolso do assalariado convencional.
O PC não sai do meu pé
nem tira o nariz de meu cigarro. O PC adora medir o quanto bebo. O PC
adora quando meu carro quebra, pois os híbridos são menos
poluentes, embora mais caros. O PC economiza a água na hora do
banho, desliga as luzes ao sair de um cômodo, mas tem piscina e o ar
condicionado -- com purificador de ar e sem CFC -- funcionando 24 horas
por dia.
O PC não conta piadas,
pois qualquer risada é um assalto às minorias. O PC também não
come churrasco. Emissões de carbono no carvão e no pum das vacas. O
PC não come McDonald´s, pois o hambúrguer pode ser de minhocas e
além de tudo o PC não curte música, pois os decibéis de uma festa
adolescente podem ferir os ouvidos de que pouco está-se importando
com isso.
O PC não tem nada a
ver com política, em verdade. O PC é um fanático religioso. E
chato, arrogante, prepotente como todo extremista é.
Sem saudosismo, que se
danem os Simpsons da crônica do Ivan Lessa. Mas ao menos que
retornem os catecismos do Carlos Zéfiro.
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