1 de mar. de 2009

A continuidade das coisas

A Letícia já disse aqui uma vez que temos o saudável hábito da leitura sanitária. Lemos muito no banheiro, tanto que ali, no cantinho do balcão da pia, há uma pequena biblioteca. Dentre os livros ali simpaticamente dispostos encontrarão - se um dia nos visitarem - "O Riso dos Torturados", do Jorge Fisher Nunes.

É um livro muito interessante por vários motivos: é real, é divertido e serve de parâmetro a muitas situações que vivenciamos hoje em dia, após tantos anos da Revolução de 1964.

Estava eu posto hoje em profundas meditações, dando um ar humano e inteligente a um ato tão animal, lendo e me divertindo com o livro, quando li o seguinte texto:

O Mal do Governador

Roberts não desistia. Eu e KGB saíamos ao sol com a intenção de conversarmos um pouco, trocarmos impressões, desenterrar reminiscências, talvez sentarmos à sombra de uma das árvores que haviam no pátio do 3° GO para olhar o céu, a torre da Igreja, o vôo das andorinhas - mas a onipresença do jovem tenente tornava essas coisas irrealizáveis. Tratava-se, talvez, de um processo de lavagem cerebral em miniatura, por saturação. "porque o governo fez isto, porque o governo fez aquilo..."

Quando Roberts estancou a verborragia sobre as boas intenções do governo estadual, KGB disse:

- Para mim o governador está doente.

- Como doente? Parece um homem sadio.

-É, mas sofre de prisão de ventre. Está no governo há tanto tempo e não faz merda nenhuma. Também é explicável: ele é baixinho, tão baixinho, que a merda fica perto dos miolos.

O tenente não conversou mais. Chamou os soldados e ordenou que nos levassem de volta às nossas celas.



Depois de ler sobre isso - e de já não mais entronizado, posto que dizem que não se deve ficar muito ao natural, pois causaria hemorróidas - fico aqui com meus botões imaginando as consequências dessa Revolução. Não sou comunista e para falar a verdade a igualdade de classes nunca foi uma preocupação que tive. Quem nasce embaixo só pode crescer para cima, logo nunca fiz parte da tal burguesia. Também nunca me preocupei muito por terem Gil e Caetano buscado asilo em terras estrangeiras, já que nem deveriam ter voltado.

O que tenho pensado muito é que hoje em dia vivemos na mesma ditadura, porém hoje os aquartelados são outros. O povo todo hoje é espião, dedo-duro, acusador e carrasco de si mesmo. Aceita - ou aceitamos, já que eu nunca pegaria em armas para mudar isso - a presença de um semi-alfabetizado dirigindo o quinto maior país do mundo, fazendo conchavos e piadinhas sem graça, prostituindo a identidade nacional em prol dos antigos companheiros de luta, hoje comparsas de quadrilha.

Talvez, quem sabe, seja porque Vossa Excelência seja baixinha também. Ou talvez também sofra de prisão de ventre. Mas a mim parece que nada mudou em 40 anos.

Para o bem da sanidade mental de muitos dos antigos combatentes populares, que durante os anos de chumbo sacrificaram suas vidas e em muitos casos as vidas de suas famílias, a postura nacional deveria ser outra. Contrária à opção de ser "indenizado" por ter sofrido ( ou não, como no caso de nossa excelência baixinha, como no caso do Ziraldo e de tantos outros oportunistas), deveriamos todos é enviar ao menos uns tantos Lactopurgas ao Planalto.

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