Quando li a Metamorfose de Kafka a primeira vez, realmente achei um dos contos mais lindos que existe no mundo. Me encantou a ideia dele ter escrito em um curto espaço de tempo, pois, além de genial o conto te prende do início ao fim. Devorei a metamorfose em uma noite e depois li mais umas quinze vezes e sempre volto ao conto... É daqueles autores que a gente guarda na prateleira do "lado esquerdo do peito", como se tivesse intimidade, como se fosse colega de colégio ou ainda amigo de chimarrão.
A ideia de escrever algo genial em um curto espaço de tempo sempre me deixou fascinada, justamente porque demoro mais que a cabeça aguenta para juntar palavras e escrever algo que não lembra o fantástico, dramático ou genial. Aproveitando o curto espaço de tempo, que grandes autores escrevem... Não é que essa semana o Brasil ficou sabendo que Vera Fischer escreveu dez livros em um ano? Se você acha que leu errado eu repito: Vera Fischer anunciou sua estreia literária dizendo que escreveu em um ano dez livros, assim... Um atrás do outro. Já mereceu entrevista na folha para contar "como os escritores são". Diz Vera Fischer que não escreve para pobre, o universo dos ricos é mais interessante. Obviamente que a notícia me deixou espantada, causou um impacto profundo na minha cuca que andava calma desde que Geise lançou sua "obra". Fui atrás para saber a editora, quem sabe ler algo mais sobre o livro? Eu não sou de julgar o autor sem ao menos ler antes, é injusto fazer algo assim e quem sou eu para "criticar" livro? Uma coisa é a obra literária, outra é o autor em si e não é de minha "configuração" tecer comentários sobre a vida de artistas... Nem televisão eu assisto. Eu não ia cair na asneira de apedrejar sem antes ler. Pois li, e o único comentário que me surgiu na cabeça foi um sonoro: Bá!
Me dou ao luxo de fazer um parênteses para contextualizar o meu "bá". Alguns escrevem bah, outros bá. O meu é com acento mesmo, porque é o meu Bá. Pode significar surpresa, cara de queixo caído, espanto, o mesmo que "poxa vida".-- Fecho parênteses.
Com o bá martelando em minha cabeça, encerrei o expediente, revi alguns pontos do meu trabalho e tive o desprazer de não conseguir me concentrar para fazer mais nada. Depois que li o trecho do livro, lembrei de Kafka. Meus olhos alcançaram o pequeno livro de bolso, fui até a estante e agarrei o exemplar. Virei as páginas de forma rápida e cheguei nas destacadas pela caneta colorida. Fui além, li os destaques que fiz no "veredicto". Kafka foi um gênio que morreu sem saber que seria um dos nomes mais importantes da literatura, não pela sua rapidez mas pelo seu conteúdo. Heinz Politzer escreveu: " Depois da metamorfose de Gregor Samsa, o mundo onde nos movimentamos tornou-se outro." E eu fiquei com aquela sensação de "inseto" de ser estranha "no mundo humano."
( Fiz uma pausa enorme no pensamento, agora nesse momento escrevendo o texto, penso que dá para sentir a aflição. ) Eu li o trecho do livro de Vera disponibilizado pela editora, não é meu tipo de leitura, particularmente não me chamou a atenção. Devo ser pobre, vai ver esse tipo de literatura não foi escrito para eu ler. Ou quem sabe, não acho interessante o mundo dos ricos... A vida deve ser para lá de chata sem ter uma correria para pagar uma conta.
Quando o Bá invade minha cabeça, leio Kafka que é para não esquecer dos gênios. Leio Kafka para ter aquela sensação de ser inseto e lembrar de não ser. Leio principalmente para refletir, porque posso fazer piada sobre os livros que ganham destaques nos jornais... Mas lá no fundo fico com aquela sensação de ser medíocre pelo que escrevo e o que penso em escrever. Deve ser tensão por não conseguir escrever contos, narrativas ou romances, alguns dirão que é inveja da rapidez de Vera e eu só digo que é "bá".
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